Durante longos anos de atividade profissional me deparei com as mais variadas modalidades de fraudes aplicadas por estelionatários físicos e digitais, principalmente para atingir o mercado financeiro de tijolos (como eu gosto de chamar o ambiente de rede de agências e caixas eletrônicos), em especial, os bancos de varejo.
Hoje vou falar um pouco de fraude, no modo genérico, pois ela abrange um grande número de modalidades e, além de ser um assunto que sempre despertou a minha atenção, não pela prática, mas pelo combate constante, ela também vem me acompanhando ao longo dos anos, lado a lado.
Como ex-bancário, (30 anos de estrada), me tornei um grande admirador e defensor da causa. E essa causa não engloba apenas a categoria bancária, mas também os próprios estabelecimentos bancários, empresas, empresários, empreendedores e comércio em geral, pois nessa briga, todos saem machucados, com exceção apenas do fraudador ou quadrilha, principalmente quando tem êxito na ação delituosa.
Ao longo da minha carreira, fui adquirindo por competência, persistência, resiliência, curiosidade e osmose, conhecimento suficiente para replicar essas questões. Trabalhei em várias áreas no Banco Itaú, desde o atendimento no guichê de caixa, até a coordenação de Inspetoria, onde nesse último, tratei de vários assuntos como: Fraude Eletrônica e Documental, Estelionato, Roubos, Fraude Interna e Desvio de Conduta. Atualmente, na direção de uma fintech, a Aceita, uma facilitadora de pagamentos e subadquirente, mesmo com volume proporcionalmente menor, a atenção e o cuidado com os processos e atividades, são um dos principais pontos de atenção e o nosso maior desafio.
Desse modo, sinto que é meu dever propagar com transparência e responsabilidade aquilo que pode afetar clientes, liderados, pares, parceiros e todos stakeholders. Fazer esse exercício me fez mais forte ontem, ainda me faz, hoje, e sempre me fará! Combater fraudes não devia ser uma virtude, mas uma condição sine qua non de qualquer ser humano.
Fraude é o meio utilizado por estelionatários e quadrilhas especializadas para concretizar um golpe contra empresas ou pessoas. Golpe esse geralmente aplicado em razão de vulnerabilidades, falhas humanas, processuais, administrativas e sistêmicas, e também, pela ausência ou manipulação de uma informação. A fraude em si, é representada por atos ilícitos e de má-fé, geralmente caracterizada pela aplicação de procedimentos físicos (adulteração de documentos, clonagem, montagem, etc.) ou digitais/eletrônicas (clonagem, "chupa cabra", phishing, cavalo de Tróia, dentre outros.).
Desde 1988, quando iniciei minha carreira como caixa da rede de agências, eu era um dos atores desse filme interminável de ação (e ainda sou, só que agora um ator veterano, devido meu primeiro fio de cabelo branco), com uma batalha travada entre mocinhos e bandidos. Eu sempre estive do lado dos mocinhos, é claro! Tanto pela minha formação pessoal e familiar, quanto pela acadêmica e profissional. Porém, também fui (e ainda sou) uma vítima desse sistema, pois enquanto funcionário-caixa de banco, eu também era alvo constante desse tipo de ação, promovida pelas incansáveis tentativas praticadas por esses meliantes.
Até os dias atuais, considero que um caixa de banco passa os seus dias trabalhando com um alvo no meio da testa, pois ele é um soldado que permanece entre o dinheiro, físico ou virtual, e os mais famigerados tipos de bandidos. Mesmo com toda a tecnologia aplicada em regras de segurança e processos, a análise, a experiência, a expertise e a atenção inviolável desse personagem solitário, ainda é o principal fator para estancar a sangria patrimonial dos clientes, das empresas, da instituição financeira e, principalmente, da sua própria, pois se ele vacilar e "cair" em um golpe, infelizmente, terá que ressarcir o banco imediatamente, sem perdão e sem desculpa, simples assim! Ou paga ou é demitido. Essa é a regra geral.
"Parabéns à todos os caixas de bancos! São realmente grandes heróis".
Mas também não posso deixar de citar inúmeros outros funcionários suscetíveis ao problema da fraude, sejam eles de estabelecimentos comerciais, de departamento público ou de qualquer outro tipo, que também se deparam diariamente com os mais variados modus operandi. Posso citar aqui os funcionários da área comercial de um banco, quando da abertura de uma conta, o funcionário de cartório, quando se depara com o registro de documentos e reconhecimento de firmas, o funcionário do comércio em geral, quando se depara com documentos e valores falsificados para compra de mercadorias (cheque, nota falsa, cartão clonado, etc), dentre outros.
Isso sem falar na fraude praticada contra a massa em geral da população, principalmente aquela mais carente de instrução e informação. Parece até brincadeira, mas o número de casos do famoso “golpe da lábia”, agora incrementado com requintes de crime de coação e extorsão, ainda está crescente no Brasil. Todo mundo tem uma história ou tem um amigo que já passou por isso, sobre o golpe do bilhete premiado, do falso sobrinho, do falso funcionário de concessionária de serviços públicos, do falso mecânico, do falso sequestro, e aí vai...
Porém, como tive um longo período da minha vida atrelado à carreira bancária, tomo a liberdade de centralizar minha atenção para as fraudes cometidas contra bancos e bancários, assim, vou preparar uma série de artigos, contando a história e curiosidades de algumas das fraudes que, mesmo antigas, ainda continuam nos rondando, diariamente.
Percebi que no decorrer desses anos todos, a fraude sempre veio sempre em formato de onda. Não que uma acontecesse somente depois de outra, pois todas sempre foram contínuas em ocorrência, porém com intensidades diferentes. Posso e vou citar pelo menos 3 delas, as quais destaco entre as mais importantes para as relações entre clientes, bancos e comércio em geral.
Hoje encerro por aqui, mas nos próximos artigos, vou tentar esclarecer cada uma dessas ondas. Mas não queria finalizá-lo, sem deixar de destacar novamente uma frase que coloquei anteriormente nesse texto:
“Combater fraudes não devia ser uma virtude, mas uma condição sine qua non de qualquer ser humano”
TMJ
Grande abraço à todos !